Wednesday, January 18, 2017

As Curicacas de Brasília



Passeando de manhã pelas quadras sul de Brasília, eu que esquecera quão lindo é o céu do Planalto Central, quão bom é estar sob ele, sou atraído por três aves pousadas em poste. Tiro fotos de longe, mas logo percebo que elas não são assim ariscas e vou chegando. Tiro muitas muitas fotos, amando aquelas três lindas barulhentas.

Com as fotos na mão, cumpria descobrir o nome. Mostro ao jornaleiro, ao vendedor de queijo, ao vendedor de cachaça, ao dono do botequim, ao deputado federal, ao porteiro, ao passante, ninguém sabe. Às vezes me olham estranho. Me lembro, claro, do poema "Nós, Passarinho", publicado no Voo sem Pássaro:

Tantas vezes pensei perguntar
ao porteiro ao presidente
ao faxineiro ao garçom 
ao salva-vidas ao gerente
pela graça de tal pássaro
cujo nome desconhecemos.
Mas como perguntar por graça de pássaro
sem sofrer dos homens a irrisão
os remoques o desprezo?
Este mundo enfastiado
que já não crê nos bichos.

Bem, quanto ao mistério do poema, descobri depois tratar-se da choca, conforme registrei aqui.

Triste mundo que já não sabe nomes de pássaros e árvores (o nome da musa fitness e do maior cantor pop de todos os tempos desta semana todo mundo sabe). Meu pai me consola dizendo que Gilberto Amado já observara isso em suas memórias.

Bem, na falta de vizinho pescador, como o do Ingá que conhecia a choca, temos o mundo da Internet, facebook e que tais.

Descubro que as beldades atendem por curicacas. Descubro a Wikiaves, com infinidade de registros sonoros. Gente, é de perder o sono. Ainda bem que não tenho mais tese para escrever.












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