Este ano o terrível genocídio armênio perpetrado pelos turcos em seu território completa cem anos. Ia escrever "será comemorado o centenário", mas ainda que se apele à etimologia de "comemorar" (lembrar com), não dá sequer para permintir ambiguidades alegres. Dentro de um já condenável programa de "turquificação" (a ideia de uma nação = um povo = uma religião = um idioma etc; ideia longe ser exclusividade turca), as atrocidades cometidades contra o povo armênio que há séculos habitava a região literalmente beiram o inacreditável.
Já li que o episódio teria inspirado um certo Führer vinte anos mais tarde e não creio haja exagero nisso.
A Turquia nega o genocídio. Assim como hoje constitui crime falar / escrever na Alemanha que o Holocausto não aconteceu na Segunda Guerra, parece ser crime falar / escrever na Turquia que houve genocídio armênio em 1915.
A propósito, em 2005, Orhan Pamuk falou abertamente acerca do genocídio. Foi levado aos tribunais, livros seus foram queimados em manifestações e, last but not least, sofreu tentativas de assassinato. Isso, o Pamuk!, provavelmente o escritor turco mais conhecido da atualidade. Imaginem qual não será o destino de um Çağan, um Rüzgar e uma Yaren que ousarem alçar a voz Anatólia afora, em busca de uma reparação histórica. Uma vergonha.
Aliás, até onde sei, o Brasil como um todo tampouco reconhece o genocídio.
Eu, que nunca estudei direito internacional, relações internacionais ou diplomacia, apóio-me no benefício dessa ignorância para esboçar medidas que deveriam ser tomadas pela Turquia em 2015 em relação à questão.
Apenas para começar:
. reconhecimento formal da existência do genocídio acompanhado de desculpas na ONU;
. indenização moral e financeira a todos as famílias dos armênios envolvidos;
. inclusão da disciplina Genocídio Armênio no Ensino Médio e Fundamental, bem como aulas de cultura, literatura e língua armênias;
. criação de um monumento em memória às vítimas do genocídio, situado equidistante entre a Mesquita Azul e a Hagia Sophia, em Istambul;
. cessão do Monte Ararat à Armênia.
Afinal, dentre as coisas aprendidas em minha maravilhosa viagem a Istambul, lembro-me de que Islã significa paz.
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