Monday, September 29, 2014

Cada vez mais leve de tanta morte



Descubro na prosa de Herta Müller decassílabo. Quase perfeito no ritmo, mais que perfeito na imagética :: "Cada vez mais leve de tanta morte". A tradução é de Ingrid Assmann.

Um decassílabo desses não se perde assim. Daí escrevo poema que o aproveita como mote. Um meio-soneto.


esquecidos na casa que apodrece
casco de barco esquecido afundado
os dias  pegajosos se arrastam
agarram-se às paredes como moscas
presas ao breu do papel amarelo

se o peso é insuportável o corpo é leve
cada vez mais leve de tanta morte

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