Thursday, October 10, 2013

O Jacaré do Leminski



Em Curitiba, aka Pinheiral, seguimos os passos do Paulo Leminski, o filho da polaca com negro que bebia no Stuart onde os garçons vestem impecáveis borboletas e a clientela devora pecáveis rãs, coelhos, jacarés e bagos de boi. 

O garçom Samico, que serviu o poeta e tem histórias pra contar, organiza vísporas e o apontador do jogo do bicho pergunta se vamos fazer uma fezinha.

Como a companheira declinou o réptil, perguntei se faziam meia-porção do bicho. Não fazem. Aquela história: já está tudo pronto, o meio quilo e tal, não é possível. O meio quilo. Tive que enfrentar sozinho. Caí de boca, lambi os beiços, acordei de madrugada triste porque no dia seguinte não ia ter mais.

Ah, já de volta em casa, só de curiosidade chequei no google que bicho tinha dado em Curitiba naquele finde. Preciso dizer? 60. Jacaré.

DOIS POEMAS DO PAULO

1.
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui


2.

     hoje à noite
lua alta
    faltei
e ninguém sentiu
    a minha falta

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