Sunday, April 07, 2013

O toque de cambraia dos teus lábios



Não me nines ao som do flugelhorn
tão naturalmente absurdamente doce
que tua boca ao bocal colada
seria como caldo de cana com açúcar.
Não me nines ao som do flugelhorn.

Não me nines ao som do piccolo
que já trazes na voz por herança
a algazarra da saída da escola
já trazes na voz por herança
não não me nines ao som do piccolo.

E assim fiquem de fora todas as flautas
a doce a transversa a pã.
De fora as notas que brilham
como brilha Aldebarã.

Vem, menina
com a velha tuba em que esbarrei
nesta casa velha do velho sertão de Goiás.
À embocadura gasta e enferrujada
o toque de cambraia dos teus lábios
derreta asperezas e paliçadas.
Casada à voz desta velha roufenha
nesta noite de ninhos e sussurros
a nossa voz seja uma coisa só.

1 comment:

Ana said...

Eu adorei esse poema, ficou lindo, muito sensível. E continuo te devendo uma visita, mas deste mês não passa.