Existe um mandamento tácito no mundo de que é preciso preencher os silêncios, uma vez que estes forçosamente denotam desconforto. Assim em situações tão díspares quanto uma excursão a uma praia distante ou um show de rock. Na excursão, o guia no ônibus não vai nos deixar quietos olhando a paisagem e, esgotadas as informações acerca do objetivo da excursão, ficará falando ininterruptamente, fazendo piadas, enquetes, elegendo vítimas no grupo. No show de rock, o "porta-voz" da banda, nem sempre o líder, ou membro fundador, ou vocalista, toma para si a tarefa de fazer piadinhas entre as músicas. Quando se trata de um singer-songwriter, os resultados podem ser desastrosos, é só pensar num Nick Drake, que não queria, ou num Neil Young ou Damien Rice, que não são talhados para isso, mas entram no esquema. Tipo, faz parte do entretenimento, 'tem que'. Putz, tão americano.
Acho que isso está presente em pelo menos 90% dos filmes (de) Hollywood. Não tenho dados precisos porque não os assisto.
Há filmes que não são propriamente feitos em Hollywood, mas pagam total tributo à sua estética e nisso, claro, não falta o horror ao silêncio.
O britânico The Death of Stalin, 2017, é exemplo perfeito. Já na primeira cena, o diálogo idiota entre os engenheiros de som da sala de concerto. Quando, vinte minutos depois, chega o momento de transportar o corpo do ditador do chão para a cama, essa coisa de preencher-todos-os-espaços-com-piadinhas-idiotas-americanoides-e-absolutamente-inverossímeis chega a um paroxismo tal que lembro que tenho mais o que fazer.
Sei que o objetivo do filme era ser comédia (black humour???), mas não funciona sequer nesta clave. É apenas horroroso.
Uma pena porque o argumento era até interessante.
PS: Quem pensar que achincalho o filme por ele zoar com o Stálin vai levar um sopapo. Tenho ódio a esta figura hedionda.
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