Quando Camila vai para a live com uma amiga, interrompemos nosso Twin Peaks, que ela revê e eu vejo, e levo minha gim tônica para a varanda. O céu abriu e apesar de tanta iluminação, vejo estrelas. Conto 11. Duas brilham mais forte, mas sei que não é Vênus, que esta aparece cedo (por isso em Goiás chamam-na Papa-Ceia) e depois só reaparece de manhãzinha. Por isso a chamam Estrela da Manhã, a girafa de duas cabeças por quem Manuel Bandeira e eu já comemos terra e dissemos coisas de uma ternura tão simples.
Depois conto novamente: 18. É curioso: quando os olhos se acostumam à escuridão a gente vê mais. Não pretendo metáfora aqui. E nem era o gim.
Aí me lembrei de uma história do pai: 1984, nós dois no apartamento da Visconde aqui no Grajaú. Nós dois no apartamento vazio. Ele me conta que dois dias atrás um grande acidente afetara a fiação, coisa de batida de carros, poste caindo, mortes. Falta de luz geral, ele então vira um céu deslumbrante, talvez quase como os céus que meus olhos mastigavam em Mauá (aqui). Mas ele faz questão de dizer e redizer: foi bonito, mas preferia que não tivesse ocorrido, já que foi pelo acidente e tal.
Tão meu pai.
Depois vou para a janela da frente e perco a conta de quantas estrelas. Acho até Vênus estava ali.
Eu quero um homem que se despeça do pai com um beijo
Lucia Berlin
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