Índio sempre comeu formiga, formiga crua, de que se retiravam pernas, asas, ferrões. Com a chegada dos invasores, incrementaram a bichinha com fritura, sal e alho. Com a farinha de mandioca nascia a farofa de formiga.
Paulista também sempre comeu, daí a alcunha 'papa-formiga'. Couto de Magalhães recorda que se comia a tanajura nas melhores famílias, vendida em tabuleiros pelas ruas. Em decassílabos perfeitos, um jovem poeta fixou o hábito: "Comendo içá, comendo cambuquira / Vive a afamada gente paulista".
Depois veio a vergonha, entre os índios (que também devoram piolhos) e a pauliceia em geral. Pena.
Em Silveiras, cidade da Mantiqueira, ainda se come formiga a rodo. No Restaurante do Ocílio, um daqueles bens (i)materiais que merecia tombamento eterno, a içá resume-se hoje a uma farofa, tão simples quanto portentosa. Vale a viagem, de qualquer ponto do Brasil e do mundo.
Não bastasse, desenvolveram ainda uma breja artesanal -- de nome Içá, por óbvio -- para acompanhar. Não sei se a receita leva, junto ao lúpulo, malte e levedura, bundinhas das bichinhas. Não é impossível.
Vivi meu dia de tamanduá. Vivemos, eu, Eric, Carla.
Esta postagem continua estoutra aqui. Em breve, outra só falando do restaurante.
A boca cheia de formiga |
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