Grafite de Tito Serrano no Rio Comprido |
Nada incomum este sentimento de que nascemos no país errado, que ora reencontro cristalino em poema do português Rui Almeida (n. 1972):
Aos quarenta e tal damo-nos conta
De que nascemos no país errado
É lícito o sentimento, acho mesmo que o poema, do seu recente Talvez a Dúvida, em que todos os poemas são apresentados em quatro estrofes de cinco versos cada, ilustra muito bem o que sinto / sentimos no Brasil de hoje.
Mas admito que aqueles que de mim discordam frontalmente, um bolsomerda por exemplo, tenha / tenha tido pensamentos semelhantes, por ocasião de certo 26 de outubro de 2014, a título de exemplo.
Muitos se apegam a uma mítica Escandinávia e gostam de citar, sem conhecer, Suécia, Noruega, Finlândia.
Então basta lembrar que Thorkild Hansen, por ocasião de todo o affair Knut Hamsun, declarou: "Se você quer conhecer idiotas, vai pra Noruega". Então.
Aos quarenta e tal damo-nos conta
De que nascemos no país errado,
Numa margem mais fria do que a nossa
Capacidade de sentir. A meio
Da vida, ou do que ela possa ser,
Damos por nós atentos ao que se passa
Por esse mundo fora, usamos o
Sentido crítico, temos opinião
Sobre um pouco de tudo e arrumamos
Pedaço a pedaço em aproximações
Discretas a decassílabos. De
Nada nos vale a força e o trabalho
Com que limpamos a casa onde moramos
Se o que dizemos se repete vezes
Sem conta em tom monocórdico e sombrio,
Se a nossa voz se cansa de tanto arderem
Florestas de árvores secas. Gota
A gota, as cisternas se esvaziam e
Os medos se transformam nesta chuva
A cair espaçadamente sobre nós.
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