Wednesday, July 19, 2017

Nasci no país errado

Grafite de Tito Serrano no Rio Comprido


Nada incomum este sentimento de que nascemos no país errado, que ora reencontro cristalino em poema do português Rui Almeida (n. 1972):

Aos quarenta e tal damo-nos conta
De que nascemos no país errado

É lícito o sentimento, acho mesmo que o poema, do seu recente Talvez a Dúvida, em que todos os poemas são apresentados em quatro estrofes de cinco versos cada, ilustra muito bem o que sinto / sentimos no Brasil de hoje.

Mas admito que aqueles que de mim discordam frontalmente, um bolsomerda por exemplo, tenha / tenha tido pensamentos semelhantes, por ocasião de certo 26 de outubro de 2014, a título de exemplo.

Muitos se apegam a uma mítica Escandinávia e gostam de citar, sem conhecer, Suécia, Noruega, Finlândia.

Então basta lembrar que Thorkild Hansen, por ocasião de todo o affair Knut Hamsun, declarou: "Se você quer conhecer idiotas, vai pra Noruega". Então.

Aos quarenta e tal damo-nos conta
De que nascemos no país errado,
Numa margem mais fria do que a nossa
Capacidade de sentir. A meio
Da vida, ou do que ela possa ser,

Damos por nós atentos ao que se passa
Por esse mundo fora, usamos o
Sentido crítico, temos opinião
Sobre um pouco de tudo e arrumamos
Pedaço a pedaço em aproximações

Discretas a decassílabos. De
Nada nos vale a força e o trabalho
Com que limpamos a casa onde moramos
Se o que dizemos se repete vezes
Sem conta em tom monocórdico e sombrio,

Se a nossa voz se cansa de tanto arderem
Florestas de árvores secas. Gota
A gota, as cisternas se esvaziam e
Os medos se transformam nesta chuva
A cair espaçadamente sobre nós.
 

No comments: