Eu já tinha o Livro de Sonetos do Vinícius, mas era uma edição nova, anódina, sem autógrafo. Esta relíquia consegui-a ontem, Editora Sabiá (aqui), 3a edição de 1968, sendo que a primeira também é deste (glorioso) ano. O que prova o prestígio do poeta, que assina apenas o primeiro nome, basta.
Esta edição lindinha tem capa do Ziraldo e prefácio do Otto Lara Resende (aqui), ótimo por tratar da trajetória do Vinícius, do Poeta metafísico, que ele mesmo tratou de renegar, inclusive recolhendo edições do primeiro livro, ao poetinha regado a whisky, mulheres, bossa e Botafogo. Sem perder o rigor jamais, tanto que é um livro de sonetos.
O livro traz a data e o local onde quando soneto foi escrito, e daí Florença, Los Angeles, Montevidéu, Oxford e Rio, muito Rio. Curioso que dois dos sonetos mais famosos, o da Separação e o da Fidelidade, tenham sido escritos fora do Brasil, este em Estoril, aquele no Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra.
Difícil escolher um aqui para a postagem. Um do tríptico para Eisenstein? Um dos Quatro Elementos? Bem, como citei o Botafogo, vamos de "O Anjo das Pernas Tortas" ::
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés -- um pé de vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: -- Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
(Rio, 1962)
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