Friday, August 26, 2016

O Dia em que Shostakovich enganou Stalin, a Morte e a mim



Como é de regra, comecei com Shostakovich pela Quinta: foi sua primeira sinfonia que comprei depois de tê-la ouvido na Rádio MEC numa noite de domingo em 1985. Claro que me apaixonei, paixão que resistiu e resiste ao pendor que em algum momento de suas vidas os ouvintes de música erudita terão por 'música difícil' (no caso específico do Shosta, postei aqui há coisa de seis anos).

Depois da Quinta, eu queria mais e o disco que havia na Gramophone da 7 de Setembro era a Nona. A minha expectativa era enorme, tanto que até hoje não sei como desci no caminho para encontrar meu amigo João Ernesto no Salete e tomar chopp com as impagáveis empadas.

A audição, enfim, causou-me grande decepção. E nem foi só a história de estar tão acostumado com uma peça e estranhar de primeira uma outra (isso acontecia comigo até com Beatles, quando criança). Foi que eu esperava algo grandioso, fodástico, que retomasse o que Shostakovich deixara na Quinta. E olha que eu nem conhecia a Sétima. E olha que eu não conhecia nada da "maldição da Nona" (postei aqui ao falar de Philip Glass).

Claro que depois gostei um bocado dela.

Mas descobrir depois que ali o gênio russo enganou, em menos de meia hora, Stalin, a Morte e, de quebra, quarenta anos depois, um adolescente brasileiro ingênuo, só me faz achar essa sinfonia perfeita. Porque quando todos esperavam A Nona, a Nona das Nonas, estávamos em 1945, fim da guerra, Shosta nos sai com uma obra haydnesca, uma sinfonieta.

No vídeo que posto uma pequena correção: a passagem do quarto para o quinto movimento, feita toda ela no fagote solo, dá-se, in fact, aos 21:24. Só assim para tudo fazer sentido.

Posto também vídeo sensacional do Bernstein explicando toda a história desta Nona. Lembro-me de ter lido há muitos anos entrevista sua no Chicago Tribune afirmando desejo de ser enterrado com a Sétima do Shostakovich, dentre outras. Não foi. Foi "apenas" com a Quinta do Mahler. Mas o carinho dele pelo compositor russo era imenso.




No comments: