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Fez |
Antes da viagem, Dorling Kindersley já me advertira que eu deveria sempre pedir permissão a um marroquino antes de tirar sua foto. Os marroquinos, continuou, têm uma suspeita arraigada de qualquer tipo de imagem. Faz sentido, pensei, se lembrarmos (será possível não fazê-lo?) que o islamismo permeia o seu cotidiano e daí, da suspeita e interdição de representar a imagem de qualquer ser vivo (Deus, humanos, bichos e plantas, elenco em ordem de importância), nasceram a extraordinária caligrafia e o extraordinário zelig.
Dorling sabe que eu gosto de fotografar gente (ainda mais que bichos e plantas e Deus) e, face o meu desânimo, acrescentou que eu não estava proibido de direcionar minhas lentes para um marroquino, mas que convinha antes pedir permissão e, depois, deixar alguns dirhams em troca. Nós tendemos a ver isso como exploração, coisa de mercenário. Lévi-Strauss, quando viveu situação semelhante entre os bororos, viu orgulho, no sentido bonito da palavra.
Em Marrakesh comprovei o quanto Dorling e Lévi-Strauss estavam corretos. Era pegar o câmera ou mesmo o Nokinha para que olhos e mãos se estendessem sobre nós. Haja orgulho. Haja dirhams. Claro que se você compra o produto, que pode ser um par de sapatos ou a música de rua, o pagamento já está ali, mas muitas vezes rola incompatibilidade entre o que se dá e o que se esperava receber, o que pode gerar estresse.
Gostei de tirar fotos assim, como as da incontornável Praça Jemaa el-Fnaa, mas mil vezes as que não se encaixam nesse ajuste de compra e venda.Tudo fica mais fácil quando o sujeito está de costas, ou trata-se de um grupo. Às vezes é preciso malícia e fingir que o registro é da companheira. E com crianças nem é preciso treta. Aliás, fora de Marrakesh tudo foi mais fácil.
(PS: Um amigo enfrentou a situação
assim)
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A praça |
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Exemplo de compra, que aqui nem foi concretizada |
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Em movimento |
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Treta |
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Treta |
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Mais 'compras' |
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Movimento |
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Mais fácil. E doce |
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Minhas diletas |
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