A medina de Fez é um labirinto, clichê sequer metáfora. Não é como um labirinto ou lembra um. É. Praticamente não há nomes de ruas, ocasionalmente indicações para a Bab Boujlou. É preciso de fato um fio de Ariadne e, à falta deste, uma memória cuidadosa, absurda. Se a medina de Fez é um labirinto, maior cidade medieval do mundo onde vivem 700 mil almas, o Minotauro reside no curtume para as quais a hortelã é quase inútil para aplacar o fétido odor :: hálito implacável do monstro que se desprende a cada arroto.
Onde o Neruda marroquino para o lamento dos homens, meio corpo imerso na colmeia de índigo, henna, açafrão, cocô de pombo, urina de vaca, para não falar nos mais hodiernos ácidos, que já não estamos em dias de Averróis. Onde?
Onde o Mário magrebino para escrever, abancado à escrivaninha em Casablanca, que sente de supetão friagem por dentro, ao lembrar que lá em Fez, homens alados, negros de cabelo nos olhos, depois de fazer um sapatinho que irá vestir o mimoso pezinho da alemã, esse homem faz pouco se deitou, está dormindo, este homem marroquino que nem nós?
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