Existe um bocado de controvérsia em torno de
Lang Lang. Eu, que entendo muito pouco, direi somente que sua
interpretação do 'Precipitato' da sétima sonata do Prokofiev me lembra o
que o Emerson, Lake & Palmer fez com a Toccata do Ginastera. À
época, o argentino (gênio) afirmou que o ELP compreendera como ninguém a
sua composição. Como ele não falava inglês, de sua boca saiu apenas um
"Diabólico" ao ouvir a versão progressiva pelo próprio Emerson, que viajara para a
Suíça unicamente para tocá-la (em fita cassete) para ele, durante as gravações mesmas do Brain Salad Surgery. Se Emerson empreendou sua viagem para ganhar uma
chancela, acho desnecesário; se para ganhar uma bênção, acho bonito.
Não era novidade que grupos de rock progressivo fizessem (re)leituras de obras do repertório erudito. Os compositores, claro, eram os velhos conhecidos de sempre, e os resultados variavam enormemente entre o chato / dispensável (Latte Miele com sua "Opera 21", de Beethoven), interessante / bonito (Rovescio della Medaglia com Contaminazione, de Bach) e realmente empolgante, como o que o espanhol Los Canarios fez com as "Quatro Estações" de Vivaldi em seu Ciclos.
O mais interessante aqui, apenas para começar, é que Alberto Ginastera
é um compositor contemporâneo, de um país latino-americano sem grandes tradições
eruditas. E Keith escolheu apenas um movimento do seu primeiro concerto para piano, peça de 1961. Ou seja, o cara era antenado! Eu ouvi tanto, mas tanto isso lá por volta dos 13 anos que depois enjoei. Hoje, com o ouvido muito mais afeito à música erudita, vejo inequivocamente uma prova do gênio de Keith Emerson e, por extensão, de toda a banda. Exemplo cabal de pós-modernidade.
E o Lang Lang? Ele consegue imprimir clareza
em um tempo de incrível rapidez. Em prol desta clareza, Glenn Gould
sacrificou a rapidez. Mas o Glenn (gênio) era doido.
1 comment:
Todos geniais: Prokofiev, Lang Lang, Glenn Gould, Emerson, Lake & Palmer. Para mim (nos idos dos setenta) Emerson, Lake & Palmer era o ápice, o suprassumo do "rock", o caminho que o rock logicamente seguiria no futuro, mas não foi o que aconteceu, e eles hoje (com exceção de uns poucos "conhecedores" como você e eu) foram praticamente esquecidos (como foi o Bach por um século até ser redescoberto por Mendelssohn). Serão um dia reabilitados? Ótima postagem, parabéns!!!
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