Seu André, cearense de Nova Russas, dentuço, gago, botafoguense roxo, dono de botequim em Triagem em que resiste uma parede de azulejos tradicionalíssimos. Triagem, bem o sabeis, é reduto militar. O centenário Hospital do Exército fica a um salto de pulga dali. Seu André, cearense de Nova Russas, sabe que dono de botequim não pode levar paixão clubística a ferro e fogo que espanta clientes. Falo com ele do bar em Mendes cujo dono vascaíno usa uma camisa do Flamengo como pano de chão e ele ri gostosamente. Ele me fala de um militar reformado, flamenguista, que tirava sarro do seu time do coração e ele levava na esportiva. Um dia esse militar, segundo semestre do ano passado, foi ofender a Dilma, chamando-lhe, dentre coisa e outra, de terrorista. Seu André, paciência apreendida sob o sol das roças de milho de Nova Russas, argumenta que ser terrorista naquela época era lutar contra a ditadura assassina. Seu interlocutor não gosta. Nunca mais fala com ele. Passa pelo botequim apenas para tomar sua cerveja no bar ao lado.
Seu André perde o cliente, mas não o seu senso de justiça.
Demonstro meu total apoio. Mas ao me despedir, exorto "Olha, mas não vá me tirar esses azulejos azuis e brancos porque senão quem para de falar com o senhor sou eu."
Seu André ri gostosamente, dando provas inequívocas de que engoliu mesmo o piano, deixando apenas o teclado do lado de fora.
1 comment:
Bacanas essas incursões por velhos bares que ainda preservam os velhos azulejos de outrora!
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