São 207 as tamarindeiras, tamarineiras, da Engenheiro Richard e da Júlio Furtado, Grajaú. Protegidas por decreto de 2006, são 'imunes ao corte'. Bem, o Maracanã, a Igreja de São Pedro dos Clérigos e outros bens por aí também eram 'imunes ao corte' e foram destombados quando assim foi conveniente, de modo que convém sempre vigiar as 207 tamarineiras, tamarindeiras, e também os não poucos flamboyants, amendoeiras e figueiras.
A primeira árvore a ser tombada na cidade foi uma figueira-brava na Rua Faro. Curioso que o próprio Nava tenha ironizado o fato quando tomou a direção do Patrimônio. Tem é que proteger as árvores urbanas mesmo, que a sanha de destruição é já sobejamente conhecida e parece que só se lembra disso quando os termômetros acusam 43 graus na Zona Norte.
O poema eterno da nossa literatura 'sobre' tamarindeiras é o do Augusto dos Anjos. Há não muito cito-o em soneto. Não há paródia, ou há, mas o respeito é profundo.
DEBAIXO DO TAMARINDO
Augusto dos Anjos
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!"
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Grajaú, 28 de setembro de 2013
a tarde sempre arranha alguma coisa
e se é domingo então aí phodeu
me rendo às flechas da melancolia
vou à caça daquilo que foi meu
nas velhas ruas do meu bairro eterno
caço tamarindeiras pelo chão
como é próprio bem próprio dos von sydows
agarrar-se feroz aos tempos idos
como os velhos poetas medievais
aproveitando este momento augusto
eu me pergunto entre dor e susto
enquanto me lambuzo de caqui ::
então mesmo que eu more na Mongólia
a minha sombra há-de ficar aqui?
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