Era no tempo das Cruzadas. Um soldado espanhol perdeu o braço
nos combates e, não podendo mais matar mouros, fez-se pastor na Sierra
Morena. Um dia Nossa Senhora apareceu-lhe no Pico da Cabeça e
arrumou-lhe braço novo, cousa prodigiosa que, até onde sei, nem a
Blimunda foi capaz de fazer com o Baltasar Sete-Sóis, embora esta
fizesse com este outras coisas que o pastorzinho nem sonharia fazer com
aquela. Enfim.
Assim
nasceu a devoção, pequena por aqui, à Nossa Senhora da Cabeça, a quem o
povo, igualmente prodigioso, logo tratou de pôr nas mãos uma cabeça,
pedindo proteção contras as cefaleias e enxaquecas. Não raro chamam-na das Cabeças. No
Rio há uma devoção grande na Igreja do Carmo e em outra do centro
(Rosário? Boa Morte?), com missas muito concorridas às quartas.
Mas
eu gosto mesmo é da capelinha escondida no alto da Rua Faro, de onde se
vê o Corcovado e um troço da Floresta da Tijuca. É a única capela
alpendrada da urbe e, pasmem, data da primeira década de 1600. Um
tesouro.
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