Seu poema mais famoso (e triste) é aquele único elogiado por Bandeira, o "Cântico do Calvário", trenodia em versos brancos escrita para seu filho morto em dezembro de 1863. Tem real sentimento, mas um excesso de exclamações aliado a certos lugares-comuns da imagística romântica fazem com que não envelheça assim tão bem. Não, não estou sendo mais severo que o Manuel. E acho mesmo interessante que o verso final, felizmente sem exclamação, traga a palavra asinha, o que deve confundir um bocado leitores de hoje, principalmente porque dois versos antes há a palavra "asas" :
(...) Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minhalma.
Asinha é advérbio que signifca "depressa". Caiu em total desuso por aqui, mas acho que em galego é corrente.
A musicalidade do poeta se revela absurda quando ele lança mão de um metro raro entre nós, o hendecassílabo ou de arte maior, que já mencionei aqui. Em "Elegia":
A noite era bela, -- dormente no espaço
A lua soltava seus pálidos lumes,
Das flores fugindo, corria lasciva,
A brisa embebida de moles perfumes.
Em "Névoas", para além de cumprir com rigor a exigência da tonicidade nas sílabas 2, 5, 8 e 11, ainda rima a palavra final dos versos ímpares com palavra do meio do verso seguinte.
Na hora em que as névoas se estendem nos ares,
Que choram nos mares as ondas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nas selvas derrama seu pranto de luz...
Um pouco o que se encontra em "O Corvo" do Poe.
Gosto ainda do seu "Arquétipo", suma do spleen romântico, em que o sujeito se mata entre baforadas de charuto para ver se encontra alguma diversão:
Pegou numa pistola e entre as fumaças
De saboroso havana, à eternidade
Foi ver se divertia-se um momento.
Teria algo mais a dizer, mas é suficiente. Suficiente, espero, para fazer lembrar o poeta por detrás da rua esquisita que subimos quando queremos cortar caminho sem passar pela praia.
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