Foi Rubem Alves quem escreveu ::
"Agora são os ipês rosa. Depois virão os amarelos. Por fim, os brancos.
Cada um dizendo uma coisa diferente. Três partes de uma brincadeira
musical, que certamente teria sido composta por Vivaldi ou Mozart, se
tivessem vivido aqui.
Primeiro movimento, “Ipê Rosa”, andante
tranquilo, como o coral de Bach que descreve as ovelhas pastando.
Ouve-se o som rural do órgão.
Segundo movimento, “Ipê Amarelo”,
rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com as do ipê, fazem
soar a exuberância da vida.
Terceiro movimento, “Ipê Branco”, moderato, em que os violoncelos falam de paz e esperança. Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno…"
Os rosas registrei-os aqui e aqui. Aquele do Tabladinho desde sempre chamo de meu, pois foi nele que tive minha epifania miguiliana. Mas tem um outro que é muito meu também: plantado tão perto, floresce por último, quando já ninguém espera, nem eu nem o porteiro Valderi. Um dia ou dois dias de glória absoluta, para logo depois se despir sobre o cimento indiferente. Aí, torna a enfiar a mão nos bolsos e vai-se miudamente recompondo, arvrezinha inotável por 363 dias.
Mas quem viu, sabe e toma por ele amor o ano inteiro.
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