Monday, July 27, 2015

Crónicas Uruguayas I :: Hotel Cervantes (aka Esplendor aka Cortázar)



Em Montevidéu nos hospedamos no Hotel Cervantes, e não apenas pela excelente localização, na Calle Soriano, a rua do Baar Fun Fun, ao pé da entrada do centro antigo e da 18 de Julio. Disse Julio? Pois. Neste hotel, que hoje se chama Esplendor e é parte de uma pequena rede sul-americana, hospedou-se Julio Cortázar, em 1954, quando então trabalhava como tradutor e revisor em uma conferência da Unesco. O próprio Julio relata numa de suas extensas conversas com Omar Prego Gadea::

Para mim [o hotel] tipificava um pouco muitas coisas de Montevidéu. (...) Não sei quem me recomendou o hotel Cervantes, onde, de fato, havia um quartinho pequeno, mas não me importava, porque eu passava o dia todo na Unesco e só queria o quarto para dormir e ler. Um quarto que (curioso: agora, que o digo, soava como uma profecia) parecia uma cela, a cela de uma prisão. Porque, com a cama, uma mesa e um grande armário que tapava uma porta bloqueada, o espaço que sobrava para me mexer era mínimo. (...) Para mim tinha grandes vantagens. Era um hotel profundamente silencioso, porque naquele momento não havia ninguém ou havia muito pouca gente.

Cortázar imortalizou o espaço aproveitando-o como cenário do conto "A porta interditada", de Final do Jogo, aliás escrito enquanto o escritor esteve hospedado nele. O hotel felizmente lembra disso, tendo impresso as palavras da narrativa na parede da antiga entrada e também denominando o seu espaço de leitura, na recepção, de Espaço Julio Cortázar.






PS: Borges, sempre que ia à capital uruguaia, também se hospedava ali. Não é pouco, uh?

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