Me sinto um pouco culpado com o soneto "O vilarejo tem trezentos anos". O ambiente descrito é o de uma aldeia romena (relâmpago branco faz alusão à țuică). A foto postada é da aldeia de Viscri.
A inspiração é menos pela visita a Viscri, onde passei apenas algumas horas, que pela leitura de Herta Müller, principalmente do seu primeiro livro Depressões, que a atirou em um limbo, rejeitados, odiados (autora e livro) que foram tanto pela regime do Ceaușescu (nenhuma novidade aqui), mas também pela sua comunidade suábia, tão visceralmente retratada. O problema é que eu amei Viscri. Amei a impressionante igreja fortificada, amei as enormes casas campesinas, amei as nuvens, o cheiro e a chuva, amei os ciganos (sobre quem escrevi aqui). A nossa tendência romântica a supervalorizar o campo em detrimento à cidade vem daí, do bovarismo e de visitas rápidas, de estadias de finais de semana.
O poema inspirado por Viscri de certo modo a retrata. Mas Viscri quer ser metonímia para todas as aldeias romenas, para todas os vilarejos do mundo, para qualquer lugar em que imperem estagnação, violência, machismo, falta de perspectivas. Com efeito, um amigo leu e viu Curitiba (longe de ser aldeia ou não?) ali. Se o poema consegue minimamente isso, é bom sinal.
O problema é que amei Viscri.
PS completamente desnecessário ::: esse negócio de ver Curitiba num poema inspirado numa aldeia da Transilvânia... bem, ambas com seus vampiros.
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