Há muitos anos o pai me presenteou com Cozinha do Arco-da-Velha, pequena jóia com textos de Odylo Costa Filho, Carlos Chagas Filho, Pedro Costa e, last but not least, Pedro Nava. O de Nava, "A Fabulosa Cozinha de Dona Íris", não consta de suas memórias, o que já justificaria a aquisição do livro.
A Cozinha tem textos e muitas receitas. Encontram-se bacalhau, vatapá, caruru, feijão-tropeiro, camarão com chuchu, doce de leite e pamonha, mas fazendo jus ao nome, é nas páginas que versam sobre cobra, tanajura, macaco, lagarto e gambá, colibri e papagaio, que o livro diz a que veio. E tome receita! Só de cobra há cinco!. Mesmo número para as de macaco (pode ser refogado com pepinos, cozido com bananas, assado no forno ou no espeto).
Tem ainda tatu, cotia, mas paca não. E nem queixada. O que me lembrou a definição de kafkeano de Drummond: "tudo aquilo que Kafka não pensou". Neste raciocínio, a queixada talvez seja tão do arco-da-velha que nem se acha em livro sobre cozinha do arco-da-velha.
Comi uma ótima na Tijuca dia desses. Me ressenti apenas de estar em restaurante frequentado pela fina flor da burguesia tijucana, não por preconceito meu ou deles, mas é que em momentos aquela queixada pedia ataques visigodos, a carne arrancada por caninos incivilizados, os ossos chupados até que deles pouco restasse.
Mas da queixada não me queixo: ótima. Não foi é boa a ideia de servi-la com o arroz negro, por si já tão temperado. Rolou competição. Melhor seria um arroz branquinho, que aos poucos se adourasse com o molho do bicho. Ou, quem sabe, com o palmito na casca, por sinal especialidade da casa.
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