Como coleciono camisas de
futebol, qualquer viagem, seja para o Cariri seja para capital europeia, é
sempre chance de aquisições. Claro que sei que na internet posso comprar de
tudo ou quase, mas não é mesma coisa.
Sabia que Atenas possuía
três times importantes, dos mais importantes de toda a Grécia: o Olympiakos (ΠΑΕ Ολυμπιακός), a
Panathinaikos (Παναθηναϊκός
Αθλητικός Όμιλος) e o AEK. Já ouvira mesmo falar deles por
alto já que acompanho (por alto) campeonatos europeus. Desde os primeiros
passeios deparei-me com lojas de lembranças com camisas dos 3 (não tanto do
AEK) e em infinitas andadas pela Plaka, Monastiraki e Psírri, encontrei mesmo
as respectivas lojas oficiais. Sou colecionador de camisas de futebol, mas não
a sério a ponto de só querer produtos oficiais, de modo que pago os 12 euros
por uma boa réplica em vez dos 65 pela licenciada. (Arrá, e eu que sempre
critiquei a pirataria de CDs!!!)
Enfim, satisfeito por
perceber que não seria difícil adquirir os itens fui adiando a primeira compra
até o dia em que saí pouco preparado para o frio grego (nada radical), de
maneira que pensei: ‘bom, compro uma das camisas e já a visto por cima desta’.
Comprei a do Olympiakos.
Pra quê.
Logo notei ser alvo de toda
sorte de olhares: surpresos, odientos, simpáticos, infelizes, pasmos, odiosos.
Ao parar em uma ótima loja de café, o ótimo gerente, com quem conversamos sobre
Copa, corrupção, desemprego, Nikos Kazantzakis, advertiu-me no final: “Olha,
cuidado com essa camisa. Eu mesmo sou torcedor do Panatinaikos, mas comigo tudo
bem, mas pode ter gente que veja e não goste... Se você ainda estivesse nos
Pireus...”. Seguimos nosso caminho rumo ao Museu Arqueológico. Lá, um dos
funcionários diz: “Você é torcedor do Olympiakos?” Antes que eu respondesse que
mais ou menos, que não era bem assim, que era só mais uma camisa para coleção,
ele continuou: “Se é, não posso te deixar entrar....”. Mas disse num tom
amistoso, e depois que soube de onde eu vinha confessou que no Brasil torcia
pelo Botafogo. E repetiu a história dos Pireus.
Esqueci de mencionar: o
gerente do café disse que ali na Grécia as pessoas eram muitos fanáticas, que
torciam de um modo balcânico de ser. Aí, tremi. Lembrei-me de texto lido há
anos sobre o Estrela Vermelha e de vídeo visto há pouco mostrando a recepção de
torcedores a um novo técnico na Bulgária.
Mas não tirei a camisa. Numa
praça, um grupo de jovens virou-se à minha passagem, olhando-me entre perplexo
e zangado; um motorista dirigiu-me palavras em seu bom grego, e no Mercado
Municipal dividi o mar, com alguns peixeiros e açougueiros e azeitoneiros
gritando “O-lym-pia-kos!!!” para receber sonoras vaias e gritos de
Panatinaikos.
A rivalidade entre
Olympiakos e Panatinaikos é tal a ponto de o clássico entre os times ser
chamado de Clássico dos Inimigos Eternos. Acho que, por perceberem-me turista,
pegaram leve. Poderiam chegar e exigir que eu tirasse a camisa ou coisa do
tipo? Pode ser, principalmente, claro, fosse dia de jogo. Mas aí eu não seria
tolo. Afinal, vascaíno em uma família de von Sydows flamenguistas, sou escolado
já.
PS: Comprei também a camisa do Panathinaikos. Mas acho que escolhi já meu time grego.
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