Bulgarozinhos que conheci nos subúrbios de Sófia |
Uma das coisas que me fez
querer conhecer a Bulgária foi poder investigar
in loco o que se diz acerca de seus gestos com a cabeça. Sempre ouvi
dizer que era o único país do mundo em que o menear pra cima e pra baixo
significava ‘não’, enquanto que o menear horizontal (que na nossa cultura não
significa apenas ‘não’ mas imenso desprezo) significa ‘sim’. Nos outros 191
países do mundo, todos o sabemos, é o contrário.
Quando eu dava aulas no
IBEU e tinha aquelas lições que se
queriam multiculturalistas sobre gestos, eu falava todo empolgado ao meus
alunos acerca desta mítica Bulgária, para tomarem cuidado quando fossem lá nas
próximas férias etc. Eles ouviam com o estupendo interesse típico adolescente e
replicavam (às vezes meneando a cabeça para os lados): “não é só lá, tchitcher,
o Chaves também faz isso”. E eu cedia: “Tá, a Bulgária e o Chaves”.
Bem. Com o levantar (ou
derretimento, como queiram) da Cortina de Ferro, a Bulgária abriu-se para o
mundo. Embora por toda Sófia eu não visto e lidado senão com búlgaros, em Rila vislumbrei
mesmo o rosto de um japonês no friíssimo monastério. Isso em três dias. Mas enfim, com o fim do comunismo, os
búlgaros, cientes de sua imensa diferença em relação ao mundo, como que se
adaptam ao resto. O que é de todo lamentável, uma tristeza imensa para os
antropólogos profissionais e amadores. Mas.
Em exame atento, surpreendi,
sim, búlgaros querendo dizer ‘sim’ meneando a cabeça para os lados. Ou seja, a
Bulgária (r)existe! O gesto lembrou-me imediatamente o que tanto vi em Goa e
mais ainda no Sri Lanka. Pena não ter visto cabeças pra cima e pra baixo com a
intenção de dizer ‘não’. Talvez por não quererem me dizer um não, ao reconhecer
a minha bela pronúncia de благодаря.
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