Thursday, February 06, 2014

Crônicas Búlgaras 1 :: Pelo Sim, Pelo Não

Bulgarozinhos que conheci nos subúrbios de Sófia


Uma das coisas que me fez querer conhecer a Bulgária foi poder investigar  in loco o que se diz acerca de seus gestos com a cabeça. Sempre ouvi dizer que era o único país do mundo em que o menear pra cima e pra baixo significava ‘não’, enquanto que o menear horizontal (que na nossa cultura não significa apenas ‘não’ mas imenso desprezo) significa ‘sim’. Nos outros 191 países do mundo, todos o sabemos, é o contrário.

Quando eu dava aulas no IBEU  e tinha aquelas lições que se queriam multiculturalistas sobre gestos, eu falava todo empolgado ao meus alunos acerca desta mítica Bulgária, para tomarem cuidado quando fossem lá nas próximas férias etc. Eles ouviam com o estupendo interesse típico adolescente e replicavam (às vezes meneando a cabeça para os lados): “não é só lá, tchitcher, o Chaves também faz isso”. E eu cedia: “Tá, a Bulgária e o Chaves”.

Bem. Com o levantar (ou derretimento, como queiram) da Cortina de Ferro, a Bulgária abriu-se para o mundo. Embora por toda Sófia eu não visto e lidado senão com búlgaros, em Rila vislumbrei mesmo o rosto de um japonês no friíssimo monastério. Isso em três dias.  Mas enfim, com o fim do comunismo, os búlgaros, cientes de sua imensa diferença em relação ao mundo, como que se adaptam ao resto. O que é de todo lamentável, uma tristeza imensa para os antropólogos profissionais e amadores. Mas.

Em exame atento, surpreendi, sim, búlgaros querendo dizer ‘sim’ meneando a cabeça para os lados. Ou seja, a Bulgária (r)existe! O gesto lembrou-me imediatamente o que tanto vi em Goa e mais ainda no Sri Lanka. Pena não ter visto cabeças pra cima e pra baixo com a intenção de dizer ‘não’. Talvez por não quererem me dizer um não, ao reconhecer a minha bela pronúncia de благодаря.
 
 

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