Tuesday, September 10, 2013

Rua da Bahia - Belo Horizonte de Pedro Nava

É Rua Sergipe, Rua Ceará, Rua Santa Catarina, Rua Rio de Janeiro, Rua Juiz de Fora

Mas é Rua DA Bahia. Vai entender. Desconforto semelhante experimentei criança dos 8, 9 lendo o letreiro da loja em Vila Isabel CANOS E SILENCIOSOS. Por que aquele e? Só muitos anos depois, talvez ontem, descobri que silencioso era uma outra parte do carro. Então canos e silenciosos.

Então Rua da Bahia? Fique. Nava a evocou em página imortal do Chão de Ferro. Todas as memórias  do terceiro volume se passam ali ou perto, mas ele sentiu necessidade ainda de colocar um apêndice "Evocação da Rua da Bahia".

Descer ou subir a Rua da Bahia, mesmo materialmente, mesmo no seu aspecto puramente mecânico, era arte delicada. Pelos paralelepípedos ou pelos tijolos queimados dos declives laterais (...), pelos passeios coalhados das sementes vermelhas que caíam da arborização e que estalavam sob as solas -- pelo meio das ruas ou rente às casas -- havia um jeito especial de caminhar, um modo particular de trocar os passos que era especialidade mineira, traço de cultura conservado pelas gerações adestradas nas "escadinhas"  de Ouro Preto, nos "pés de moleque" do Sabará, nas "capistranas" da Diamantina... Devagar e preciso. Lento e seguro. Uma espécie de meneio para os lados, a troca dos pés sem pressa, um andar compassado para não perder o fôlego e poder conversar de rua acima, a cabeça baixa (...) Andar mineiro, paulatino e inabalável andar mineiro.

Encontrei-o ali, na esquina com a Goiás. Como cá no Rio a galera só arrancar os óculos do Drummond, achei por bem, como contra-exemplo, deixar os meus com o Nava. Que era tudo menos míope.

Na Rua da Bahia ergue-se também hoje monumento em homenagem ao compositor Rômulo Paes. Lemos: "A minha vida é esta: / Subir Bahia e / Descer Floresta". Versos g(l)osados no avesso do monumento: "Minha vida é essa / Subir o morro e descer / com a erva".

Não digo Nava assinasse embaixo, em apologia à cannabis. Mas o espírito da rebeldia é o mesmo do Nava moleque / adolescente que subia e descia a Bahia (a da Bahia) atirando pedradas nos adoradores do por-do-sol e que tinha ódio ao governo e sonhava com "a deposição do Presidente do Estado, o encarceramento dos seus Secretários, o esbordoamento dos deputados e uma matança de delegados".

Nava (de quem falei aqui, aqui e aqui e aqui, só para lembrar alguns) :: eterno. Inda mais se enriquecido com o vermelho e ouro desses poentes que só existem em Beagá.




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