Já falei da Penguin Cafe Orchestra por aqui e aqui e nunca terá sido o bastante. Simon Jeffes, que era quem escrevia o cardápio do café, olhava com bons olhos a 'intromissão' do acaso, do aleatório, em sua música.
Em 1982 episódio sui generis: em excursão ao Japão, que Jeffes já amava por ser o berço do zen budismo e do compositor Ryuichi Sakamoto, com quem ele, aliás, trabalhou neste período, ele encontra um harmônio jogado fora na rua. Depois de contactar o proprietário, indiferente à sorte do instrumento, Jeffes decide levá-lo para casa e adotá-lo.
Algum tempo depois nascia "Music for a Found Harmonium", um dos clássicos da PCO e, estranhamente (ou não) um dos clássicos do repertório folk irlandês (ouvi-a em meu pub em Dublin).
E hoje enfim, o harmônio jogado fora me rende este soneto.
1982
os penguins excursionam no Japão
olhos para os pássaros do céu de Kyoto
e para a vida que fervilha no chão
os olhos dos olhos se sonham zen
os ouvidos absorvem Sakamoto
e a música se vai fiando além
de rótulos e fronteiras: o ignoto
os move quando saem em passeio
na tarde das cerejeiras em flor
há, pois, que andar com calma : walk don't run
Simon esbarra no harmônio posto fora
onde viram fim ele vê o começo
e o sublime nasce de um tropeço
E segue algo do compositor Ryuichi Sakamoto:
1 comment:
Fantástica história e muito bom o soneto que a acompanha. O som dos Penguins é surpreendente mesmo.
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