Thursday, February 28, 2013

À noite tranca a gata no elevador



O número 29 da Poesia Sempre, de 2008, apresenta uma antologia de poetas sérvios, mais de 40. As questões complicadíssimas da Sérvia, incluindo e principalmente o embate com a Croácia, soem interessar-me imenso e não com pouca sede, portanto, atirei-me aos poemas.

Coisas interessantes aqui e ali, mas nada tão apaixonante.

Tirante, claro, a Ielêna Lengold, que paga todo o volume.


PASSION
Ielêna Lengold

Ele confessou-me que à noite tranca a gata no elevador.
Os urros dela, deseperados, coléricos,
as pancadas nas paredes e, acima de tudo, o selvagem miado
lembram-no de mim, afirma.
A noite toda a calma mulherzinha loira dorme ao lado dele.
Ele ouve: a gata no elevador, enlouquecida,
bate a cabeça no vidro
e com as garras rasga a própria pele o animal selvagem
e a floresta guincha ao longo da espinha eriçada,
a cabeça contra a parede, os miúdos ossos das patas direto na parede!
E justo quando a gata solta o terrível último grito
ele estremece no escuro, em segredo, debaixo do cobertor.
De madrugada, antes de todos, o meu amado arrasta-me pela cauda morta
e atira-me ao monte de lixo.

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