GAMBÁ GAMBOA
Agora tem televisão no meu ônibus Charitas-Gávea-Charitas e, embora eu seja inimigo declarado de televisão há pelo menos 44 anos, e ainda que eu francamente prefira, seja ida ou volta, dormir, ler, ouvir música, corrigir testes ou simplesmente contemplar paisagens e gentes que se descortinam ante minhas retinas fatigadas, televisão tem algo de hipnótico e não raro meus olhos caem sobre a tela.
Menos mal que não é televisão aberta, normal, mas uma tal de bustv. Veja, só, segmentação é isso aí.
Vira e mexe aparecem matérias interessantes e tem um programa em especial que me faz cócegas: "Nosso Português é Brasileiro". Rá! Apesar do título, a abordagem do sujeito, um tal de Professor Agnaldo, é a mais fechada, prescritiva, gramaticoide possível. Estilo Pasquale.
No início da semana ele discorreu sobre o presente do subjuntivo do verbo "ser". O objetivo, claro, era espinafrar o uso do "seje", pois ele concluía afirmando "Seje não existe".
Tá bom, "seje" não existe. Mas então aquilo que muitas pessoas falam é o quê? Na boa, como se pode falar algo que não existe? Isso não dá uma aura de poder, tipo falar o nome verdadeiro de Deus oculto na Cabala? Ou: imagino-me entrando numa loja de carros pedindo para ver um modelo. Quando o solícito vendedor perguntar qual, responto ligeiro" "Um que não existe" (Ou exista, epa!).
Mas hoje ele se superou, porque hoje ele veio ensinar a forma feminina correta de "gambá". Prescritivo como ele só, terminava "Tem gente aí que fala gamboa, mas gamboa não existe!" Caraca, então tem muita gente aí falando gamboa?!?!! Morria e não sabia! Me encantaria conhecer essas pessoas, puxar uma prosa, assuntar qualquer coisa. E Professor Agnaldo concluía: "Não digam gamboa", como quem adverte que bebida e direção não combinam ou que se use camisinha. Rárárá. E não eram nem 7 da madrugada.
Poxa, e eu tinha acabado de usar gamboa no terceto final de um soneto bobo:
e teria meu boteco na Gamboa
vestido de azulejos bisotados
e em cada um teu rosto desenhado.
Agora, depois do Professor Agnaldo, corrigindo:
e teria meu boteco na Gambá Fêmea
vestido de azulejos bisotados
e em cada um teu rosto desenhado.
PS: By the way, a história de eu entrar numa loja de carros é mero exemplo. Prefiro bustv a carros.
Assim seje.
1 comment:
rárárá ou rsrsrsrs ou kkkk . Qual seria a opção do professor Aguinaldo ? Adorei!
sheila castello
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