Friday, March 23, 2012

Ser Invisível, parte 2



O sofrimento, pois, nos torna invisíveis. Experimenta perder um pai, se separar, perder o emprego. Ter um filho doente.

Com Luna foi assim, quando descobriu que sua filha tinha doença séria, rara e incurável. Em princípio, claro, tornou-se mais visível, quando vinham todos com vozes pesarosas dizer algo: o verniz das máscaras sociais. Depois tornou-se invisível. No escritório há colegas que de tudo fazem com os olhos para que estes não se cruzem com os de Luna. Porque o esbarrão de olhos, pensam, obrigar-lhes-ia a pergunta inevitável: "E como está a Adélia?". Aquela coisa pegajosoa e pastosa. Empurram Luna para a invisibilidade para depois comentar entre eles 'como ela está quieta, como guarda tudo para si, depois que soube a filha doente.' E assim vamos vivendo com os rótulos, que é mais conveniente.

Luna, ainda bem humorada, apenas pensava: "Funny, tornei-me Luna Nova. À minha revelia. Será fase?" E lembrava-se da Cecília: "Eu tenho fases / como a lua."

1 comment:

Nathalia said...

Muito bom!