Friday, March 23, 2012
Ser Invisível, parte 1
Em Kid A, Radiohead expôs uma receita para tornar-se invisível na canção "How to disappear completely".
That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here I'm not here
In a little while
I'll be gone
The moment's already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here I'm not here
A leitura da letra mostra que não é bem uma receita, não se trata de um how to: o cara já está invisível, já atravessa paredes, já não está ali, a repetição é eloquente.
Receitas, pois, para a invisibilidade? Uma é certo tipo de uniforme. Não qualquer um, claro. Os faxineiros são invisíveis. Aquelas pessoas que preparam café e têm obrigação de manter as garrafas das repartições sempre cheias: invisíveis. Atravessam paredes, flutuam na escadas, não pesam no elevador. Atravessamo-las cotidianamente, elas não existem. Choramos em frente da televisão quando morre o Steve Jobs, vertemos lágrimas com o câncer do Lula, da Dilma, do José Alencar, mas não nos interessa se o faxineiro o zelador o almoxarife teve a casa devastada pelas águas de março (embora gostemos da música), se têm o irmão alcoolatra ou o filho doente. Não que sejamos insensíveis, é que elas não existem.
Aliás, o sofrimento é outra ótima receita para a invisibilidade. Aqui uma imiscui-se na outra, pois esses de uniforme sempre sofrem, daí seu ser invisível.
Sofrem, carregam sacolas,
pegam ônibus e trem em pé,
viajam em vans controladas
pela milícia de Magé.
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