Tuesday, July 05, 2022

Belém da Cachoeira, Bahia


É antiga minha paixão por distritos. E vilas e povoados, indicando que estão fora da sede do município, seja lá que município for. Há muitos anos escrevi aqui sobre o Bairro dos Souza, distrito de Monteiro Lobato, São Paulo. "Bairro".

Conhecer cidadezinhas é legal, mas o melhor é conhecer os seus distritos. A caixinha dentro da caixinha.

Poderia ser esta outra postagem aqui, sobre Pedras, tão significativa na toponímia roseana.

Agora Belém da Cachoeira. Cachoeira é cidade maravilhosa, voltar a ela foi melhor que a primeira vez. Que brisa é aquela que sopra do Paraguaçu, que casarões são aqueles, que azulejos? E, claro, ainda tem São Félix a uma ponte de distância

E um pouquinho antes: o distrito de Belém da Cachoeira, velho como o Morro do Pai Inácio. Um casario de sonho, os licores e, não bastasse tanto, a igreja em cujo seminário estudou ninguém menos que o Padre Bartolomeu de Gusmão, o Padre Voador, personagem da vida baseada em fatos reias e de outras vidas, tão mais reais, como quando ele sobrevoa os céus de Lisboa ao lado de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas em sua passarola. De lá de baixo, chegavam-lhes aos ouvidos as notas do cravo de Scarlatti

Não tinham medo, estavam apenas assustados com a sua própria coragem. O padre ria, dava gritos, deixara já a segurança do prumo e percorria o convés da máquina de um lado a outro para poder olhar a terra em todos os seus pontos cardeais, tão grande agora que estavam longe dela, enfim levantaram-se Baltasar e Blimunda, agarrando-se nervosamente aos prumos, depois à amurada, deslumbrados de luz e de vento, logo sem nenhum susto, Ah, e Baltasar gritou, Conseguimos, abraçou-se a Blimunda e desatou a chorar, parecia uma criança perdida, um soldado que andou na guerra, que nos Pegões matou um homem com o seu espigão, e agora soluça de felicidade abraçado a Blimunda, que lhe beija a cara suja, então, então. O padre veio para eles e abraçou-se também, subitamente perturbado por uma analogia, assim dissera o italiano, Deus ele próprio, Baltasar seu filho, Blimunda o Espírito Santo, e estavam os três no céu, Só há um Deus, gritou, mas o vento levou-lhe as palavras da boca. Então Blimunda disse, Se não abrirmos a vela, continuaremos a subir, aonde iremos parar, talvez ao sol.

 









 


 

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