Pode até parecer ostentação, mas quem hoje iria se ostentar com coleção desse objeto obsoleto, o CD?
Descartada, pois, essa hipótese, é isto: reorganizo minha coleção de CDs passados oito anos de abandono e destruição. E o faço em homenagem à minha mãe. E se as coisas parecem obscuras ou dramáticas, explico:
Dante, meu filho amado, tem autismo. Nos seus dificílimos primeiros anos, ele cismou porque cismou com minha enorme e cuidada coleção de CDs, tendo algum prazer e grande obsessão em tirá-los do lugar, arremessá-los no chão, jogá-los pela janela, quebrá-los. Mas isso era ainda algo menor, comparado a outros comportamentos e estereotipias como bater a cabeça no chão, morder-se, agredir-nos. Com a distância, parece fácil pensar hoje que bastava tirar os CDs de seu alcance, escondê-los enquanto ele estivesse dormindo (o que fazia pouquíssimo) para preservar a coleção. Sim. Mas quando se está no olho do furacão, exausto estressado frustrado, não se tem clareza nenhuma.
Quando a mãe do Dante saiu de casa e eu fiquei absolutamente só, minha mãe vinha do Rio (morávamos em Niterói) para ajudar alguns finais de semana. Num sábado de destruição, ela reagiu "Não deixa não, Evandro, é a sua coleção, são seus CDs".
Guardei aquilo.
Juntei os cacos. Faltou-me energia para organizar a coleção na primeira mudança. Nesta agora, enrolei as mangas, chamei marceneiro e aí está. Ainda abro um CD do Banco e encontro um Andrew Bird, às vezes não encontro nada. Reavalio também minha relação com a coleção: num exercício raro de desapego, boto itens à venda ou doo.
Eu havia prometido que só voltaria a comprar depois que organizasse a coleção. Pois, no show do Arcpélago, durante o ótimo Carioca Prog Festival, compro, criança, o Caravela Escarlate e o Kaizen.
E a Dona Maria de Lourdes, sentada em sua nuvenzinha, a tudo assiste feliz: à coleção que retoma forma, ao menino mais lindo que cresce feliz, amado.
Obrigado.
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