Thursday, June 13, 2019

Veredas Mortas, Sertão Morto


 Por ocasião das gravações da minissérie global Grande Sertão: Veredas, em 1985, Alan Viggiano, autor de Itinerário de Riobaldo Tatarana, aconselhou a produção que fosse para Goiás, pois aquele sertão do livro já não existia. O jornalista Pedro Fonseca, sobrinho de Manuelzão de quem já falei aqui, insistiu para que as tomadas fossem em Minas, afinal eram ali os locais descritos, estavam ali o Paredão, Guaicuí, Andrequicé, o de-Janeiro, dentre tantos outros. Prevaleceu Minas.

Fosse hoje essa questão, acredito que nem o Pedro defenderia o sertão mineiro.

O sertão do Rosa acabou. Da viagem que fiz em 1992 (aqui) para esta, senti uma diferença absurda. Simplesmente já não se veem mais veredas. JÁ NÃO SE VEEM MAIS VEREDAS. Porque elas simplesmente não existem mais. Foram tomadas pelo eucalipto. Vê-se, sim, uma aqui, outra acoli, que como escondida. Chegamos a um ponto em que as poucas sobreviventes tiveram que ser tombadas pelo município de Três Marias para que não desaparecessem. Isso se deu em 2006, com as veredas São José, da Tolda, e da Ponte Firme. Uma tragédia.

O caminho para o de-Janeiro é feito em meio a um mar de eucaliptos dos dois lados. Não é nem para papel, é para o ferro-gusa das siderúrgicas. É de sentar e chorar. Tristes "florestas" sem pássaros. Sem água, sem vida sem porra nenhuma. Quando estive na Amazônia, há poucos meses, vi muito mais buritis que aqui.

Maior empresa da região, a Gerdau garante adotar práticas rigorosas de gestão ambiental. Sim, Sra. Gerdau, acreditamos em você. Assim como na Vale, né?

Tristeza.

PS: Veredas-Mortas é onde Riobaldo faz o pacto. Imaginava ele que o Coisa-Ruim era pior que o Hermógenes e, solerte, se apresentava toda apresentável como um executivo da Gerdau? E que as veredas um dia, em breve, estariam de fato mortas?


Ah, um buriti!



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