Fiz postagem bobinha no facebook no sábado dia 12 de março com foto da Camila onde se lia: "Esperando as gloriosas manifestações do dia 13 bebendo vodka artesanal no restaurante russo". Tentei postar algo com bom humor, item escasso nas discussões políticas, demonstrando que não acredito nessas manifestações anti-corrupção e que, sim, sou de esquerda (restaurante russo). Piadinha que, claro, tira sarro de boa parte dos manifestantes que creem que Dilma é comunista e acreditam na ameça real do comunismo albanês se instalar entre nós.
Mas a piadinha é, tecnicamente, falha.
Porque Mikhail Flegontovich Smolianikoff (que aqui virou Miguel) e Eupraxia Wladimirovna Smolianikoff (que virou Irene), "russos" na verdade siberianos, emigraram do seu país natal justamente fugindo do sistema de governo instalado após a revolução de 1917. E a refeição, em verdade um banquete, que servem seria, portanto, um banquete da aristocracia czarista! Ou seja, tudo ao contrário! Se fosse pela coerência total, chata, um tijucano daqueles bem reaças, ou um reaça daqueles bem tijucanos (sem preconceito!, que me perdoem Trajano e Eduardo Goldenberg!) é que deveriam ir para o restaurante, se fartar de varênique, melar a cara com a manteiga quente do frango à Kiev e postar no face com os dedos encharcados de vodka: "No restaurante czarista, esperando Moro restaurar o Ancien Régime."
Agora é sério :: uma refeição na Dona Irene, aonde eu sonhava em ir desde 1992, é um acontecimento, a lifetime experience. Eu, que detesto vodka desde um porre aos 14 anos, bebi da geladíssima artesanal, feita por eles mesmo, sem fazer careta. As entradas infinitas são divinas e o borsch de beterraba não é o espartano que Stalin queria que os soviéticos comessem : leve, leva creme de leite. Os pratos principais e as sobremesas são como zepelim de chumbo: extremamente consistentes, mas voam.
Impossível não lembrar do final deste que é um dos mais lindos filmes, A Festa de Babette. Não é A cena final, quando Babette revela sua verdadeira identidade às incrédulas irmãs, porém aquela em que os convivas, leves e abençoados depois da gloriosa refeição, e apesar das farpas trocadas entre eles, dão-se as mãos e dançam em roda qual crianças. Velhos felizes sentindo-se eternos de mãos dadas dançando qual crianças.
Aleluia.
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