Foi logo na chegada em Bucareste que a vi na capa de uma revista. Sob o susto da chegada, ainda sob o impacto da partida, e sob a premência de ter que converter alguns euros em lei, deixei para comprar a revista com calma durante os dias seguintes. Em vão. Só fui encontrar a Herta Müller novamente no aeroporto, saindo da Romênia.
É muito auspicioso que seus livros estejam sendo publicados no Brasil. Depressões, sua primeira obra, odiada tanto pela sua comunidade suábia quanto pelo regime de Ceaușescu, é obrigatório. O Compromisso, que ficcionaliza o que esse ódio gerou, tem aquelas durezas só encontradas num Primo Levi ou Binjamin Wilkomirski. Sempre a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio terá lá seus defeitos orgânicos de unidade, mas traz histórias tão saborosas quanto aterradoras quanto improváveis (falei de uma delas aqui). O Rei se Inclina e Mata segue essa mesma linha, sem o mesmo brilhantismo.
Deixemos ela ficcionalizar à vontade suas memórias. Para se ter uma ideia, ela foi comprada, isto mesmo, COMPRADA, da Romênia pelo governo da Alemanha Ocidental. Isso nos anos 1980.
E, nunca será excessivo, algumas de suas pequenas crônicas nos apresentam nomes tão pouco conhecidos entre nós. E assim pesquisamos Jürgen Fuchs, Theodor Kramer, Maria Tănase e a biblioteca infinita de Borges segue o seu curso.
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