Houve uma madrugada em Paquetá em 1987 em que eu, meu irmão, o Renato e o Rodrigo tomávamos cerveja enquanto jogávamos jogos bobos de carta. Acho que só me lembro disso porque o filme que passava na pequena televisão em preto e branco era O Tambor, do Volker Schlöndorff. A casa de portas escancaradas somada à maresia oleosa pingando nos sofás decerto contribuíram para tornar as agruras de Oskar Matzerath um pouco mais perturbadoras.
A cena das enguias me assombrou por muito tempo e, embora meu doutorado tenha sido para lá de prazeroso, tão logo defendi a tese enfiei na cabeça que precisava ler um romance de fôlego e a escolha recaiu sobre o romance de Günter Grass. Eram passados 21 anos da madrugada em Paquetá.
21 anos para que eu enfim entendesse (?) Oskar e sua voz vitricida. Cheguei mesmo a incorporar o personagem em alguns momentos e durante uma época tornou-se uma de minhas mentiras favoritas (junto às Juquinhas e ao meu amigo devorado pelos índios fulni-ô em Pernambuco) dizer aos alunos que eu tivera voz vitricida quando aluno do São José nos anos 70. Mentira que, ao contrário das demais, não durou muito. Melhor assim.
Li outras coisas dele, mas bastava o tambor de lata para conferir a Günter Grass algo de gênio.
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