É tão entranhada a ideia de a moqueca ser só de peixe ou, vá lá, de outros bichos do mar, que a menção de uma moqueca de ovo pode assustar.
Existe mesmo um 'provérbio' espírito-santense que diz - moqueca é capixaba, o resto é peixada --, o que pode fazer com que se torça o nariz ante a ideia de uma moqueca de ovo.
A verdade é que, até onde sei, qualquer carne pode entrar no preparo de um moquém indígena. Até o Bispo Sardinha, até Hans Staden, até o que não é carne. Em 1584, o padre guloso Fernão de
Cardim registrou : "Eles nos deram a cear de sua pobreza peixinhos de
moquém, isto é, assados, batatas, cará, mangará e outras frutas da
terra..." A ideia de se usar ovo se me afigura genial, pois é a moqueca baiana deliciosa, com muito dendê, leite de coco e todas as cores de pimentão, sendo preparada e devorada por quem está sem grana para comprar peixes e camarões.
A da Camila é deliciosa, onde o ovo chega mesmo a lembrar generosos troços de lagosta, até que o ponhamos na boca. Ela não aprendeu isso em livro ou site nenhum, mas sim da maneira que autêntica iguaria poverina deve ser aprendida, na tradição oral, em seu caso, com sua mãe na cozinha de Cabula.
Ao contrário de D. Marilene na cozinha de Cabula, no entanto, Camila tem forte queda para o curry e gosta de pesar a mão, de modo que devo vigiá-la quando chega a hora do tempero, que para ela é em todos os momentos da confecção do prato.
O resultado é sensacional. E ela me dá a cear de sua riqueza ovinhos de moquém.
arte povera |
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