Um de meus poetas de cabeceira é, já há alguns anos, o Alberto da Costa e Silva. Pena que tão pouco conhecido, menos ainda lido. Não é dos queridinhos das universidades. Currículo tem muito, mas não é por isso que gosto tanto de sua obra: filho do poeta Da Costa e Silva, membro da ABL (que já presidiu), historiador (seu A Enxada e a Lança: A África Antes do Portugueses é obra monumental), ensaísta, memorialista (em O Espelho do Príncipe, sua infância, seu pai), apaixonado pela Vera, dono de alguns dos melhores versos sobre a infância da nossa literatura.
Conheci-o no final dos anos 90 em seu apartamento em Laranjeiras. Sei que ele está muy remotamente ligado à minha família, sem laços de sangue, no estilo amigo do papagaio da tia da vizinha da avó do amante.
Foi dele o nome da minha exposição de fotos na PUC-Rio em 1994, Por Dentro e Por Fora Menino, verso usado para dialogar justamente com foto tirada no Ceará. Dele a epígrafe do meu poema "A Arte da Levitação", que fecha o Voo sem Pássaro: "Como se fosses meu pai / e não meu filho."
Dele sonetos lindos, semelhantes em ousadia e imagética aos do Carlos Nejar: opção por versos brancos ou rimas toantes, profusão de enjambements, repúdio à chave de ouro.
Em minha coleção este lindo Livro de Linhagem, em formato de azulejo. Aí já é covardia comigo. Azulejo purtuguês setecentista.
No seu fim, cinco "Sonetos Rurais" ::
Ordenha, ferra, encêrro: o humilde cêrco
dos sêres e das cousas vou fazendo,
e a riqueza do mundo, a fauna, os ventos
na minha curta pele vou cosendo,
ilhéu neste morrer, jamais morrendo
nos momentos que colho e que rejeito,
centauro desta carne e de outra, ausente,
que o verdor do passado vai vivendo.
O esperar para o amor, roçando a morte
em lençóis, massapês, tucuns de rêdes,
volta, agora, lunar, eternamente.
O instante que de amar o que deixava
partir fez mais amor, fiel, consente
em ser soma de tudo, amor sem gente.
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