HÁ UM TRECHO muito bonito nas memórias de Nikos Kazantzakis quando ele lembra estar numa aldeia na Calábria sob forte chuva e sem quem o acolhesse. Lembra-se de seu avô cretense, que iria acolher qualquer desconhecido em situação semelhante e conclui que nas aldeias calabresas não havia avôs assim. Bem.
Bem, uma senhora o acolhe, com um lar, um fogo para secar suas roupas, um feijão delicioso, um banco para seu sono e, na manhã seguinte, leite quente. Não trocam palavras, exceto quando ele pega a carteira e ela recusa, agradecendo, "Desde que meu marido morreu, nunca dormi tão bem"
Acho tudo isso bonito, mas me chamou a atenção o trecho em que ele a examina, já de manhã, e conclui "Como ela deve ter sido linda quando jovem!", maldizendo o destino humano e sua inevitável deterioração.
Me lembrei foi de Carrière, Jean-Claude Carrière, roteirista de Buñuel e que escreveu um dos livros mais bonitos sobre a Índia: Índia : Um Olhar Amoroso. No verbete 'Mulheres' :
Uma forma de expressão nunca deixa de surpreender : os indianos, homens e mulheres, falam naturalmente da beleza das mulheres idosas. Podemos dizer que uma jovem é bonita, atraente, pretty, nice-looking. Raramente dizemos que ela é bela. A beleza só chega com a idade, com o cumprimento de uma vida. A beleza é uma qualidade que é merecida e adquirida. Não cai do céu nem é fundamentalmente perecível, como entre nós.
Isso torna menos difícil a tarefa de envelhecer?
1 comment:
É isso mesmo.
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