Monday, March 22, 2021

Livraria São José

A Livraria São José devia seu nome à sua localização: Rua São José, por sua vez assim chamada por causa da igrejona barroca da 1o de Março. Mas, devido à crise, havia se mudado. Para mim sempre foi um sebo e agora fechou de vez. Foi ali que comecei a minha roseana, comprando em abril de 1988, poucos dias antes de a Camila nascer, uma edição de Sagarana pela José Olympio. Ali voltei diversas vezes para comprar diversos livros de crítica sobre o Rosa e sua maravilhosa correspondência com Edoardo Bizzarri, seu tradutor italiano. Tudo usado. Como acontece com as fotografias, me arrependo, e muito, dos que não comprei, como a edição norte-americana do Grande Sertão.

Agora fechou de vez.

Não estou me dando muita importância não, mas já não sei que faço numa cidade que tem cada vez mais bancos, drogarias e igrejas neopentecostais, e menos livrarias e botequins antigos.

Este o poema que Drummond escreveu para o proprietário da São José. Saiu na segunda edição da Viola de Bolso.


A CARLOS RIBEIRO

Que desejo ao grande livreiro
meu amigo Carlos Ribeiro?
 
Que entre livros e amigos viva
uma existência sempre ativa;
 
e sua vida seja como
um delicado e nobre tomo
 
(quem ama assim o seu ofício
insculpe o melhor frontispício);
 
e não haja o menor desgosto
manchando a página de rosto;
 
e que tenha como prefácio
um verso de Pope ou de Horácio;
 
que no fim de cada capítulo
sorria sempre um novo título
 
(não protestado!) de esperança
em tudo o que o trabalho alcança;
 
da primeira à segunda parte,
tudo obedeça às regras da arte;
 
e que este livro continue
como a obra completa do Ruy,
 
por muitos e ditosos anos,
queira assim Deus em seus arcanos.
 
Que portanto o grande livreiro
meu amigo Carlos Ribeiro
 
na São José viva tranquilo
entre uma princeps do Camilo
 
e tratados de Auguste Comte,
enquanto fulge no horizonte
 
aquela estrela benfazeja
dos buquinistas. Assim seja. 

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