Monday, February 24, 2020

Crônicas Cipriotas II :: Dum spiro spero


Não, não queria conhecer Famagusta, eu não queria conhecer qualquer parte do Chipre ocupada pelos turcos, que invadiram o país em 1974, tocaram o terror e se autoproclamaram país independente --  República Turca do Norte do Chipre -- tão sólido que reconhecido por apenas dois países: eles próprios e, adivinhem, a Turquia.

Não queria conhecer, achando, e ainda acho, que uma visita poderia ser lida como prestigiar, negativa aliás que minha dileta amiga Claudia defenderia. Ela não visitaria, por exemplo, a Índia, dados os inúmeros casos de violência contra a mulher. Respeito muito sua posição, mas no caso da Índia é possível visitar à contrapelo, uma visita crítica, que não caia no chavão dos incensos e flores. Visitar mesmo para denunciar, que foi o que fizemos um pouco aqui, quando visitamos, em Agra, o café das mulheres vítimas de ataques de ácido.

Mas ao norte do Chipre não queria ir, ainda mais depois de conversar com duas interessantíssimas, maravilhosíssimas senhoras no Museu Etnográfico de Paphos, que a princípio me pareceu caro e desorganizado, armadilha para turistas e que, ao fim, revelou-se muito especial pela presença das duas senhoras, mãe e filha, a mãe viúva do arqueólogo responsável pelo trabalho em Kato Paphos. Um lugar especial, sem deixar de ser caro e desorganizado.

Ousando conversar sobre o espinhoso e doloroso tópico da invasão turca, da filha do falecido arqueólogo ouvi cristalino o adágio latino Dum spiro spero, que significa 'Enquanto estou vivo, tenho esperança', o latim sempre mais conciso que bula de remédio, a beleza do verbo 'esperar' como ter esperança, hope, não wait.

E Famagusta? Ah, falo depois que a postagem ficou longa



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