Friday, April 13, 2018

A Casa do Clóvis



Quem mora por ali passa em frente sem se dar conta. Quem está de ônibus, vindo do centro a caminho do Andaraí, Grajaú, Méier, Lins, Engenho Novo, Engenho de Dentro, Água Santa, idem. Passa em frente desde o primeiro dia no emprego até se aposentar e não tem olhos para a casa pequena, escondida pela folhagem, casa centenária (1906) que ostenta cinco janelas em sua fachada. Janelas difíceis de serem vistas. A entrada é pelo alpendre. Não diria uma bleak house, posto que térrea, sem torres ou torretes ou áticos. Dir-se-ia casa que não quer ser vista.

Pois ali nesta casa da Barão de Mesquita morou o jurista cearense Clóvis Beviláqua, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, com Machado e Nabuco, e que escreveu, sozinho, o Código Civil que perdurou por cem anos. E agora só coisas bonitas: foi padeiro da Padaria Espiritual. Ali, nesta casa térrea do Andaraí, recebia a população sem caraminguás para honorários. E, o melhor: sua mulher Amélia concorreu a uma cadeira da ABL, em 1930. A Academia, machista, negou-lhe a entrada, motivo para que Clóvis não tornasse a pôr os pés lá.

Pedro Nava, no início vertiginoso do capítulo "Engenho Velho", do Balão Cativo, descreve visão que, menino, teve do casal:

Dos personagens que me mostrava tio Salles. Aquele de fraque, chapéu coco, calça cinza, expressão simpática e sofredora, , dando o braço a uma senhora pomposa , cheia de plumas, de frisetes, um tanto arrogante e lembrando as damas de sociedade dos filmes do Carlito: Clóvis Beviláqua com D. Amélia a reboque.

A casa não é tombada. Parece que por lá vivem seus herdeiros. Espero meu amigo / irmão Felipe Barroso, conterrâneo do Clóvis, fazer um documentário a respeito. Ele que já fez da Padaria.


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