Friday, November 17, 2017

Corinthians, 1977



Não gosto do Corinthians e isso independe de eu ser vascaíno. Eu não gostaria mesmo que não ligasse para futebol. Mas uma das minhas lembranças mais ternas que tenho do meu pai está curiosamente ligada a esse time e isso foi em 1977 quando enfim terminaram jejum que já durava 22 anos ( em tudo que é lugar dizem que são 23, não sabem contar ) e eu, garoto irresponsável, fiquei jogando bola depois da saída da escola fingindo esquecer a hora em que minha mãe me buscava todo dia. Minha mãe fazia transporte escolar, então conhecido como condução, o que a ajudou muito na separação do meu pai, financeira emocional e blablablamente. Ela fazia condução então tinha a hora toda regulada. Eu não estava no local combinado de sempre, estava lá em cima na quadra perto da piscina jogando bola. Quando enfim desci, um breu. Entendi tudo. Ela já tinha passado. Não existia celular. Não tínhamos telefone. Fiquei ali quieto, paralisado, cheio de culpa, remorso, pavor. Tudo escuro na Conde de Bonfim. Coisa de uma hora depois aparece meu pai em seu chevete vermelho. Ele nunca vinha me buscar. Não que ele fosse brigão, mas eu esperava uma bronca dura e merecida. Eu dava. Ele chegou, olhou pra mim e falou:

-- Que isso? Só porque o Corinthians foi campeão?

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Chorei agora.

Meu pai, um tímido, nunca sentou comigo e falou coisas como: 'Evandro, é importante ser tolerante etc'. Nunca. 

Ele ensina assim.

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