Não gosto de saudosismo e repudio o mito da Idade do Ouro, mas na Copa de 1974 um sujeito comprou 5000 bombinhas na minha rua e as distribuiu por toda a Visconde de Santa Isabel. Em 78 foi uma loucura, a Copa aqui tão perto, quando o Brasil conseguiu a sofrida classificação para a fase seguinte (gol do Roberto), fomos todos participar dos buzinaços.
Mas 1982 foi fueda. O time impecável, a festa nas ruas. Não houve uma única -- única -- rua nesta cidade que não não estivesse linda e espontaneamente enfeitada. Muitos artistas naceram ali, dibujando Naranjitos.
Em 1986 não foi diferente. As ruas ficavam como a Marquês de Sapucaí, fosse Anchieta, Tijuca (célebre sempre), fosse Ipanema. Na Barra não sei, que ali está mais pra Brasília. Ou Miami. Lindeza. Algum antrópologo em formação? Algum leitor de Cascudo? Esquece Xingu, esquece o saci, desce ali, vai ver a comunidade se organizando para enfeitar a rua.
Em 1990 já não foi igual. Nem em 94. Conquistamos o título? Insipidamente. 98, 2002, 2006 e 2010 serviram para mostrar que essa história de enfeitar as ruas era já coisa do passado. A Globo fez concurso pra eleger a rua mais bonita. Lindo. Virou escola de samba. Tudo vira esporte, tudo vira competição. Tornar oficial o espontâneo. A Jorge Rudge se organizou, criou técnico disso técnico daquilo. Sigh. Hoje até a Jorge Rudge cansou.
Temos a Alzirão e coisas do tipo. Impulsionada pela ImBev. E enfeitar ruas que era manifestação pura da arte popular, e ainda mais do que isso, morreu.
E não. Não vejo consciência política aqui. A discussão pode ter inúmeros desdobramentos e mesmo chegar à mesquinhez PT X PSDB. E não vejam aqui saudosismo ou Idade do Ouro. Quanto à atual seleção, não tem a menor identificação com o povo, por mais que mídia tente. Mas não é só isso.
No comments:
Post a Comment