Dia desses a mãe assistia sonambulamente a um programa sobre a Chapada Diamantina. Sim, sou daqueles que nunca veem TV e para dizer que viram dizem que estavam passando e entreviram pela porta entreaberta :: a mãe via o programa e decidi ver um pouco também, pois a Chapada me interessa há quase três décadas, bem desde antes virar destino, antes de passar na TV a que as mães assistem cabeceando.
No programa quatro jovens moças pegavam estradas atrás de rapel e tirolesas. Contavam pra câmera suas impressões, todas falando quase sempre ao mesmo tempo as mesmas coisas. A Chapada Diamantina fica no interior da Bahia, mas durante todo o programa não apareceu um baiano, um preto, um local. Talvez eu minta, apareceu sim, a mão de um, carregando as tralhas das moçoilas. Os locais são burros de carga. Você paga e eles fazem o servico, calados, conhecem o seu lugar. Para acompanhar as belas imagens ouvia-se o rockinho do Coldplay.
E elas se achavam as rútis das rútis, as transgressoras metendo-se em buracos atrás de aventuras radicais! E assim é a viagem ideal, a Chapada sem os chapadeiros.
Vivenciei isso claramente durante minhas duas estadas em Goa. É muito comum ingleses, alemães, russos e americanos quererem Goa sem os goeses, a Índia sem os indianos. Existisse repelente, venderia mais que a linguiça da feira de Mapuçá.
Episódio :: certa vez na praia um vendedor tentava fazer negócio com o distinto casal ao meu lado. Todos sabemos que não se conhece o sentido da palavra "insistência" até se conhecer um vendedor goês, mas isso não justifica o grandíssimo gringo filho da puta enxotá-lo com os termos mais grosseiros, mandando-o calar a boca. Que fiz? Convidei o vendedor para sentar na minha barraca. Ofereci-lhe água e biscoitos. Conversei, comprei seus colares, para desespero de Mr. Walter Raleigh ao lado, que sufocava.
A viagem só faz sentido com o conhecimento das pessoas, e juro que não estou a cagar regras.
Para os incomodados, sempre haverá a TV. Enquanto o repelente não chega.
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