Obviamente que um dos aspectos irremediavelmente perdidos para quem faz downloads aleatórios de músicas é o da coerência e coesão de um álbum (epa, olha o tom professoral). Se nos ativermos mais estritamente à coesão, esta será construída pela passagem de uma música para outra e claro que este aspecto não será negligenciado pelo produtor do disco. Principalmente se em álbum conceitual.
A isto sempre dediquei atenção e, dentre as milhares, tenho as preferidas.
Uma das passagens mais espetaculares (repito: por passagem não se entenda aqui "trecho", mas a passagem mesmo de uma canção a outra) encontro-a em um álbum normalmente desprezado pelos fãs do progressivo: o Volle Molle, do Grobschnitt.
Da brincadeira teatral debochada escrachada anti-imperialista de "Coke-Train Show" (impagável, mesmo para quem não entende alemão) aos primeiros acordes da épica "Rockpommel's land". É como se estivessem dizendo: Veem? Somos conhecidos pela teatralidade, pelo deboche, mas somos capazes também de um grande lirismo.
Um lirismo absurdo. A voz morna do Stefan, o baixo que preenche silêncios de Popo, as baquetas extraordinárias do Eroc, a guitarra chorada de Lupo e, não bastasse, o mellotron do Voler. Covardia.
Mas claro que aqui trato apenas dos 10 minutos inciais da canção.
Porque os seis minutos finais não hão-de ser música. Pertencem a uma outra categoria de coisas, a um mundo faminto de seres e situações patéticas, de encontros ao luar no mais profundo oceano, sob a raiz das árvores ou no seio das conchas.
Um mundo mais poético, de nuvens, alusões, onde o amor reagrupa as formas naturais.
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