Há não muitos dias publiquei aqui o poema "Nós, Passarinho", em que trato (ou aquele impostor que se faz passar por meu eu-lírico) de um passarinho que canta no Clube Português, para alegrias minha e de Dante. Uma das tônicas do poema reside em nossa cumplicidade ante um mistério, mistério que a vida nos emprestou.
Mas não é que... descobri a graça do danado do passarinho? Graças ao querido vizinho Seu Francisquinho, que sempre brinca um monte com o Dante quando o encontra, descobri tratar-se de uma choca.
Aí, recorri ao meu Ornitologia Brasileira, obra monumental de Helmut Sick em 2 volumes que jamais me tivera importância assim tão pontual. Não sei que choca é aquela, se a de-chapéu-vermelho, se a d'água, se a barrada, se a listrada, se a bate-cabo, se a da-mata, se a de-asa-vermelha ou ainda se a choquinha-lisa ou choquinha-estriada ou a de-flancos brancos. Não sei. O que, graças, mostra que o segredo não foi de todos desvendado.
Uma das coisas mais legais dos livrões é a maneira como Helmut descreve o canto das criaturinhas de Deus. Para a choquinha-de-peito-pintado, Dysithamnus stictothorax, ele diz: " voz: tschürr (chamada); tschraü (advertência); sequencia descendente e vagarosa, no fim descendente e acelerada, à feição de Thamnophilus (canto)."
Eu, ai de mim, ornitólogo amador, apenas descrevi como....
É um trinar que a si próprio repete
é canto que a si mesmo ecoa
bolinha de borracha quicando
no vácuo do infinito
gotinhas descalças pingando
um piazinho tonto
sete sílabas se estalando.
Bem, pode-se ouvir a choca (uma das!) aqui...
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