Este post é pro Rixa, amigo virtual que, enfim, se realizou. Ele não conhecia a ótima paródia que o João Bosco e o Aldir Blanc fizeram do maravilhoso soneto do Augusto dos Anjos (que, by the way, sei de cor, podem pedir).
Naturalmente que a paródia aqui só funcionaria se em decassilabos perfeitos, heroicos e sáficos, e exatamente isso os dois letristas / sambistas fizeram, mostrando belo domínio da métrica, que os poetas de botequim amiúde desconhecem e fingem desprezar.
Ao contrário do original, Aldir e João fogem à tirania da manutenção da rima dos quartetos, que o Augusto, sonetista longe de parnasiano, cumpre. Acho a chave-de ouro da paródia fraca, ao passo que a do Augusto é antológica. Mas versos como o primeiro e todo o primeiro terceto (falo da paródia) são geniais, daqueles de dar urras ao Vasco!
A foto é de um bar em Viçoso Jardim, com dúvidas o mais imundo que já fui.
VANDALISMO (Augusto dos Anjos)
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
BANDALHISMO (João Bosco - Aldir Blanc)
Meu coração tem butiquins imundos,
antros de ronda, vinte-e-um, purrinha,
onde trêmulas mãos de vagabundos
batucam samba-enredo na caixinha.
Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
um choro soluçante que não para,
piada suja, bofetão na cara
e essa vontade de soltar um barro....
Como os pobres otários da Central,
já vomitei sem lenço e sonrisal
o p. f. de rabada com agrião...
Mais amarelo que arroz de forno,
voltei pro lar, e em plena dor-de-corno
quebrei o vídeo da televisão.
PS: Pergunto-me o que o Alexei Bueno acha disso tudo aqui.
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