Enquanto Manuel lê, sossegado e só, as cartas que seu avô escrevia à sua avó, aproveito esta manhã muito molhada e fria para voltar a Erwin Schulhoff.
Schulhoff, creio, é nome essencial para os interessados em música de câmara tcheca degenerada.
Pobre Schul, homem todo errado: artista, de vanguarda, e comunista na Europa Central nos anos 1940. E judeu. Não será difícil imaginar suas privações e seu fim.
Foi dos primeiros compositores eruditos a flertar com o jazz. Depois, quis fazer música de fato comunista. Em ambos os casos, impossível fazer escolhas mais odiosas aos olhos dos nazistas. Sua música, pois, é entartete até a medula.
Aficcionado por quartetos de corda, ganho em seu Sextet uma viola e um violoncelo de bônus. É minha peça preferida do disco. O terceiro movimeto, Burlesca, de um frescor inigualável, antecipa magistralmente o soturno Adagio final, reflexo, porventura, de uma Praga arrasada.
PSs: Por que, em toda o repertório de música de câmara, existem tantas quartetos, para meu deleite, mas tão poucos sextetos? Brahms tem dois, Bridge e Martinu, um cada. E...?
Genial, Schulhoff escreveu uma peça silenciosa que precede o 4'33'' do queridinho John Cage em trinta anos.
Genial, Schulhoff escreveu uma peça silenciosa que precede o 4'33'' do queridinho John Cage em trinta anos.
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