GATO DE MERCEARIA
Paizinho, por favor, comprao gato que ali me espia?
Que isso, filho, o gatinho
é aqui da mercearia.
Tá na lista da mamãe
laranja, alho, tangerina,
café, gato e melancia.
Menino, deixa de onda
Deixa eu ver a bizarria
Mas perdi a lista, pai,
perdi enquanto subia
a ladeira que nos trouxe
a esta mercearia.
Ah, paizinho, vai, me compra,
Por favor, só por um dia.
Mira e veja, filho, o gato
tem muita da serventia.
Parece pica de velho
que o tempo cruel esfria
só vive em cima do saco
dormindo as horas do dia
vendo assim até parece
que a ninguém ameaçaria
mas tão logo chega a noite
faz as vezes de vigia
manda-chuva do pedaço
o terror da rataria.
Ah, paizinho, vai, me leva
Por favor, só por um dia!
Ora veja que ironia
estávamos nós à busca
de erva de santa-maria!
E queres levar pra casa
gato de mercearia?
Presente não é apenas
pra quem aniversaria
me compra o gato, paizinho,
Faz radiante o meu dia.
Não tenho dinheiro, filho,
Vê lá se Seu Manel fia
a laranja, a tangerina
e o gato de mercearia.
Será nosso toda a vida
Toda a vida e mais um dia.
1 comment:
Ev, adorei o poema drummondianamente prosaico na aparência, mas (acho que a adversativa aqui não cabe; é complemento, não oposição) extremamente lírico na essência (ou: o lírico vive no prosaico / o prosaico vive no lírico).
Navegaste bem nas águas de Drummond, como tão bem caminhas nas trilhas de Quintana. Com seu estilo, claro. Em que a sutileza pese, sempre.
Um beijo.
Marta R.
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